Uma pista para a juventude eterna
Por Hugo Aguilaniu
Alterações no metabolismo poupam equatorianos com nanismo dos efeitos do envelhecimento
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Não existe remédio para viver mais e melhor além de alimentação equilibrada, exercícios físicos regulares e distância de comportamentos de risco e excessos em geral. Mas hoje temos alguns indícios de como prolongar a expectativa de vida ou atenuar os efeitos do envelhecimento.
Afirmar que determinado tratamento afeta a longevidade não é simples. Para tanto, deveríamos comparar a expectativa de vida (ou a qualidade do envelhecimento) de duas populações humanas idênticas que representassem a totalidade da espécie, submetidas a dois tratamentos diferentes. Esse experimento não é banal por diversas razões.
Em primeiro lugar, é difícil comprovar que duas populações humanas sejam totalmente idênticas e representem essa totalidade: isso só seria possível se as populações fossem grandes o suficiente para serem consideradas estatisticamente idênticas. Outro grande empecilho é o tempo. Por definição, tal experimento seria muito, muito longo; poucos estariam dispostos a investir em um estudo que certamente não poderiam acompanhar até o fim. E por isso as pistas já existentes muitas vezes foram obtidas por meio de encontros quase fortuitos.
Os primeiros experimentos a respeito das causas do envelhecimento foram publicados em 1988 por Thomas Johnson, da Universidade de Boulder (EUA), que mostrou que um gene era capaz de aumentar a longevidade do Caenorhadbitis elegans, um pequeno verme de 1 mm de comprimento. Em 1993, Cynthia Kenyon identificou outro gene cuja alteração encompridava a expectativa de vida do mesmo nematoide.
A descoberta é interessante porque, posteriormente, compreendeu-se que os dois genes tinham relação com a via de sinalização da insulina, aquela que responde à presença do açúcar no organismo e ativa uma série de processos metabólicos, entre os quais o crescimento. Isso significava que essa via metabólica era capaz de regular a longevidade em animais simples como o nematoide.
Essas observações foram confirmadas em outros organismos, como as moscas drosófilas e os ratos. Nesses casos, sim, podemos dizer que um gene afeta o envelhecimento quando comparamos a longevidade de duas populações similares em todos os aspectos, só diferenciadas pelo tal gene. A alteração é feita por cientistas, por meio da manipulação genética, ou seja: sabemos exatamente o que estamos fazendo.
Mas e quanto aos seres humanos? Um indício de peso chega a nós de uma comunidade de equatorianos com nanismo, que sofrem da rara Síndrome de Laron, também observada em populações judias do Mediterrâneo. Supõe-se que esses equatorianos descendam de judeus que fugiram da Inquisição espanhola de Isabel I de Castela (1451-1504).
O médico Jaime Guevara há muito se intrigava com a saúde atípica desse grupo de pequenas pessoas. Ao conhecer Valter Longo, um geneticista italiano que trabalhava com envelhecimento na Universidade do Sul da Califórnia (EUA), os dois logo estabeleceram uma conexão: aquelas 99 pessoas carregavam uma mutação no receptor do hormônio de crescimento que, embora impedisse o desenvolvimento pleno de seus corpos, era muito similar a mutações na via de sinalização da insulina que prolongam a expectativa de vida de animais de laboratório.
Em 2011 Guevara e Longo publicaram um estudo mostrando que esses indivíduos são, de fato, protegidos dos efeitos do envelhecimento e não sofrem de câncer ou diabetes, mesmo com uma dieta comum. Ressalto que, embora resguardados dos dissabores da idade, por serem um grupo reduzido não é possível traçar uma diferença estatística relevante em relação à longevidade.
Ainda assim, é marcante o fato de existir um grupo de quase cem pessoas imunes a doenças derivadas do avançar da idade. Esse tipo de proteção sugere fortemente que a via de sinalização da insulina poderia afetar o envelhecimento nos humanos. A administração de moléculas que atenuem essa via após o período de crescimento poderia então constituir um verdadeiro elixir da juventude.
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Hugo Aguilaniu é biólogo geneticista e diretor-presidente do Instituto Serrapilheira
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